Estudos comprovam: dieta exagerada em ultraprocessados afeta saúde pública, causando doenças crônicas. Novas estratégias envolvendo reforma tributária são necessárias.
A situação da obesidade é cada vez mais preocupante em todo o mundo, afetando milhões de pessoas e colocando em risco a saúde pública. O aumento do sedentarismo e o consumo desenfreado de alimentos processados contribuem significativamente para o quadro alarmante. Medidas urgentes precisam ser tomadas para reverter essa tendência e promover hábitos de vida mais saudáveis.
O combate aos quilos extras requer uma mudança de mindset por parte da sociedade, com a valorização da alimentação balanceada e da prática regular de atividades físicas. Os riscos associados ao excesso de peso vão muito além da estética, impactando diretamente na qualidade de vida e na predisposição a diversas doenças crônicas. É fundamental conscientizar a população sobre os perigos da obesidade e incentivar a busca por um estilo de vida mais equilibrado e saudável.
Obesidade Infantil: Um Problema em Ascensão
Pior ainda: metade das crianças estará com índice de massa corporal (IMC) elevado em questão de uma década. Mesmo com a disponibilidade de novos medicamentos e procedimentos para combater os quilos extras, o problema persiste e se alimenta desde cedo, na infância. O cenário se torna ainda mais preocupante em nações de baixa e média renda, como o Brasil.
A explosão do excesso de peso pelo mundo acontece em meio a uma enxurrada, nos últimos dez anos, de estudos que estabelecem uma ligação entre a doença crônica (sim, doença!) e uma dieta exagerada em alimentos ultraprocessados, os industrializados tão sedutores que frequentemente ultrapassam nos teores de açúcar, sódio e gordura.
Quando se acrescenta a essa oferta calórica a falta de atividade física, tem-se o cenário propício para o ganho de peso e a série de enfermidades associadas a ele — desde problemas cardíacos e diabetes até distúrbios articulares e câncer. Uma tempestade se forma, ameaçando vidas e os recursos dos sistemas de saúde.
A solução aparentemente simples de comer menos e se movimentar mais, embora inteligente, não parece ser suficiente para reverter as tendências da obesidade. ‘O problema não será resolvido apenas com ações individuais’, afirma o endocrinologista Bruno Halpern, presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso).
Os Números Alarmantes da Obesidade em Dados
Nos dados do Atlas, analisados pela Federação Mundial de Obesidade (WOF), o Brasil contava com 34% da população de 5 a 19 anos vivendo com a condição em 2020, ano em que a pandemia de Covid-19 teve início, totalizando 15,6 milhões de pessoas. A projeção é que, seguindo esse ritmo, o número suba para 20,4 milhões de brasileiros em 2035. O público infantil é o mais preocupante, pois está sendo exposto precocemente a condições prejudiciais à saúde.
Entre crianças e adolescentes, o Atlas aponta um aumento de 52% nos casos de pressão alta e de 34% nos casos de sobrecarga de açúcar no sangue ao comparar os dados de 2020 com as previsões para 2035.
‘É urgente agir agora na prevenção da obesidade infantil sensibilizando as famílias’, afirma o cirurgião bariátrico Cid Pitombo, especialista no assunto e pesquisador da Unicamp. Embora a alimentação desbalanceada não seja a única culpada, é um dos principais elementos por trás da situação atual.
O custo e a conveniência dos ultraprocessados, uma infinidade de produtos prontos para consumo ou aquecimento, acabam cobrando um preço na forma de excesso de peso e problemas de saúde. Uma análise robusta publicada no British Medical Journal ressalta a conexão direta entre o consumo desses alimentos industrializados e o aumento do risco de 32 condições de saúde — desde problemas cardíacos até complicações respiratórias e mentais.
A Eficácia dos Tratamentos para a Obesidade
No campo do tratamento da obesidade, há avanços na medicina, como as cirurgias metabólicas e novos medicamentos. A classe do Ozempic foi um divisor de águas entre os fármacos, aprovado inicialmente para o controle do diabetes e posteriormente revelando efeitos na perda de peso. A mesma substância foi utilizada na formulação do Wegovy, específico para obesidade, também da Novo Nordisk. Aprovado no Brasil, ainda não está disponível no mercado.
A febre desencadeada pelo Ozempic teve efeitos colaterais negativos, impulsionados pelo uso inadequado e sem prescrição médica, inclusive por celebridades. A corrida pelo produto resultou em falsificações, levando a alertas da Organização Mundial da Saúde.
No âmbito da alimentação e medicação para combater a obesidade, parece necessário um choque de realidade para reverter esse quadro preocupante. A mudança requer um envolvimento coletivo em escala global.
Por: Revista VEJA, Edição nº 2886, 29 de março de 2024
Fonte: @ Veja Abril
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