Economista afirma que Brasil não será afetado pela desaceleração do mercado imobiliário chinês devido ao ritmo de crescimento da população e incentivos governamentais.
A crise imobiliária que atingiu a China em 2020 pegou a todos de surpresa, afetando não apenas o mercado local, mas também repercutindo em nível internacional. O crescimento exponencial do setor imobiliário chinês, impulsionado por anos de desenvolvimento acelerado, foi interrompido de forma abrupta pela chegada da pandemia, causando instabilidade e incertezas para investidores e moradores.
A crise do mercado imobiliário chinês ressaltou a importância de políticas econômicas sustentáveis e de planejamento urbano adequado. O impacto da desaceleração econômica e da queda nos preços dos imóveis gerou um cenário de difícil recuperação, exigindo medidas emergenciais para estabilização do setor. Neste contexto, os desafios para reverter a situação se tornaram evidentes, revelando a vulnerabilidade do mercado imobiliário diante de crises inesperadas.
Impacto da crise imobiliária nas incorporadoras
As incorporadoras que surfaram os bons momentos da construção agora se viam em um País com a população diminuindo e empobrecendo, o que gerou a diminuição da demanda, a queda no preço dos prédios e o esvaziamento de edifícios. Esta crise imobiliária impulsionou empresas do setor a buscarem empréstimos para lidar com o cenário negativo enquanto a bolha estourava.
Crise do mercado imobiliário chinês e impactos globais
Nos primeiros dois meses de 2024, as vendas de edifícios comerciais caíram cerca de 20,5% e os investimentos no setor registraram queda de 9%, segundo dados do Departamento Nacional de Estatísticas da China. Enquanto a crise imobiliária chinesa afeta o crescimento local, outras nações também já sentem os efeitos das instabilidades na segunda maior economia do mundo.
O Brasil, entretanto, não deve sofrer tanto com o declínio observado no mercado imobiliário chinês. É isso que afirma Roberto Padovani, Economista-chefe do banco BV. ‘Hoje somos menos dependentes do ciclo econômico da China, o que suaviza o impacto dessa desaceleração’, argumenta. ‘Pelo contrário, nos tornamos um grande exportador global de commodities para outros mercados’, acrescenta.
Ritmo de crescimento e pressão por commodities
O economista observa que a diminuição do ritmo de crescimento da China está ligada à queda do poder de consumo da população e a necessidade das empresas locais de renegociarem suas dívidas. Este cenário faz com que o País demande menos matérias-primas do mercado brasileiro. Por outro lado, a diminuição da demanda chinesa contribui com o barateamento da matéria-prima global.
‘O Brasil tem conquistado mercados globais e isso vai atenuando a influência da crise aqui, além de manter espaço para o Banco Central continuar cortando as taxas de juros’. Lições da crise chinesa Padovani argumenta que a crise imobiliária em curso na China também não é capaz de influenciar o mercado brasileiro.
‘Há a impressão de que depois da pandemia, passamos a ter mercados globais menos integrados, o que favorece países emergentes’, adianta. ‘O cenário da crise imobiliária chinesa exerce o efeito contrário e gera fatores que alimentam a renda, o crédito e a confiança no Brasil.
Desaceleração no mercado imobiliário e ajustes necessários
A justificativa é que a queda de juros fomenta a preservação da renda e de crédito, fomentando o consumo do brasileiro a longo prazo. ‘Se a crise imobiliária chinesa se recuperar rapidamente poderia gerar alguma pressão por commodity no mundo. Porém, nem assim eu vejo o BC impedido de cortar os juros’, pontua o economista.
Ele avalia, entretanto, que um cenário de recuperação repentina é improvável. ‘O que estamos vendo na China não é novo. É algo comum a países que crescem muito rápido em pouco tempo, como já aconteceu no Japão e na Coréia do Sul. Fatores como crédito forte e renda favorável vão criando uma bolha e quando você desacelera o crescimento, a bolha fura.
Estamos vivenciando um longo período de ajustes até a normalização’, observa. Para Padovani, a experiência chinesa deve seguir um processo lento de redução de endividamento das empresas. ‘A crise imobiliária tem convencido os investidores que a desaceleração que tem sido vista na China desde 2012 vai continuar. O debate é quanto. Ao invés de crescer 9% ao ano, pode ser 3%.
É um mundo em que teremos commodities com um preço mais estável e isso constrói um cenário para o futuro sem uma exuberância’.
Fonte: © Estadão Imóveis
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