A finitude da existência física nos lembra do processo natural da vida, trazendo pequenos renascimentos em meio ao abstrato contato com o luto.
Lidar com o luto é como encarar um abismo sem fim, um vazio indescritível que parece consumir tudo ao seu redor. A tristeza que nos envolve é como uma névoa densa, que nos impede de vislumbrar a luz no fim do túnel. É um processo natural e solitário, onde a dor se torna nossa companheira constante, acompanhando cada pensamento, cada suspiro.
A lamentação ecoa em nossos corações como um grito sufocado, uma expressão do sofrimento que nos consome por dentro. Enquanto nos afundamos na escuridão do luto, buscamos desesperadamente uma saída, um alívio para a nossa angústia. Mas, por mais que tentemos escapar, a dor persiste, nos lembrando da inevitabilidade da perda e da fragilidade da vida.
O processo natural do luto: uma jornada de pequenos renascimentos
As circunstâncias que envolvem o desaparecimento de alguém deixam uma marca profunda de luto, de lamentação, de tristeza e dor. Independentemente do que tenha ocorrido, a ausência permanente sempre será abrupta e trágica. A memória guarda lembranças cruéis e inéditas que machucam, persistem. Isso acontece, é tudo o que posso dizer.
A superação do luto através da compreensão da finitude
O tempo vai dissipando a intensidade da dor. O sofrimento surge agudo e lancinante, transforma-se em uma ferida crônica, ganha contornos sólidos e pesados e assume múltiplas formas que podem ter diversos nomes familiares e enigmáticos. Aqui está a convergência dramática de tudo que é desconhecido e apagado ao longo dos séculos de conhecimento que possuímos em nossa mente.
O vazio do luto e os pequenos renascimentos da existência
A restrição absoluta em enxergar a beleza vai diminuindo com o passar do tempo e você aprenderá a se distrair com as maravilhas da vida, quando menos esperar. A resistência vem com a distração do futuro. Não lute contra o processo natural de vivenciar pequenos renascimentos que surgirão.
A transformação do luto em amor e aprendizado
Honrar aqueles que nos amaram é conceber a oportunidade de renascer de forma lapidada e mais empática. Sim, a dor vem, vai, permanece, persiste, retorna e depois parte. E ensina. A ausência tem o poder absoluto de engrandecer algo abstrato que é a essência perecível da vida. E o vazio incorporado se torna algo intocável e extremamente significativo. Se transforma em amor.
A beleza e a dor do luto: a sabedoria da existência
A força do meu amor foi descoberta através da intensidade da minha dor. E isso é universal. Você possui uma vida bela e isso não deve perder o seu valor. A grandiosidade das experiências, a renovação dos tempos, tudo retornará ao ponto inicial. E será através de você. O seu sofrimento estará sempre ligado à magnitude da sua condição finita. Um dia será o seu momento de desaparecer definitivamente.
A transcendência do luto para a compreensão da existência
A brutal consciência de sua finitude pode conferir à dor um significado, amenizar a crueldade e resgatar a humanidade sagrada. Isso lhe proporcionará uma força, uma coragem, um entendimento mais profundo sobre a vida, o mundo e tudo mais. O sofrimento intenso se transformará em um amor imensurável dentro de si mesmo e, quando menos esperar, a vida parecerá estar em equilíbrio.
A presença dos mortos e a continuidade do luto
Nesse momento, quase não haverá mais espaço para a presença física daqueles que já partiram. Os falecidos assumem o tamanho de todas as galáxias que você percebe. Assim como o vasto céu, são os entes queridos que nos observam – na imprevisibilidade de todos os nossos dias.
A transcendência do luto através do amor e da compreensão
Aqueles que se foram sempre serão um refúgio e uma fonte de conforto para onde podemos retornar, estejamos vivos ou não. A distância desaparece. Internalizamos os mortos de forma instintiva e completa. Tornamo-nos mais fortes e resilientes. O luto nos ensina a lidar com a morte tanto física quanto metafórica. Não tente decifrar um Sentido. Não há sentido. Essa é a essência e a beleza de viver.
O amor como pilar fundamental diante do luto e da morte
O Amor se revela como o propósito supremo e último da existência. Nenhuma morte pode apagar essa Verdade. A morte jamais terá a última palavra para aqueles que compreendem que dor inimaginável surge da beleza dos sentimentos mais nobres que existem.
A transformação da saudade em força e sabedoria
A saudade pode perturbar por um tempo, mas depois, na mesma proporção, revela força, aceitação, elevação e sabedoria. Minhas palavras podem parecer distantes, mas quero que você saiba que nós compartilhamos do mesmo sentimento – diante da imprevisibilidade e da violência que assolam cada ruptura de vida no mundo.
O luto como caminho para a compreensão da existência e da morte
A morte, essa intrusa que iguala a todos os seres do mundo, torna todos insignificantes e iguais. A morte, essa ordem contrária à justiça, torna o ser humano merecedor do céu e do inferno, das lembranças e das preces – agora e na hora de nosso fim. Viva o luto sem revoltas. Os desígnios divinos (nascimento, amor, destino, morte) são insondáveis.
O luto como portal para a transcendência e o amor eterno
Choramos diante do suposto absurdo, mas a verdade é que uma vida se esvai, mas não se encerra. Os falecidos continuam sua jornada de elevação e amor. Em algum plano. Em algum lugar. E talvez esteja justamente aí: dentro de você, se por acaso suas crenças estiverem turvas. O elo do amor, quando sólido, vence o Nada. Portanto, ore, busque fé na prece, discernimento e resignação.
O despertar para a vida após o luto e a compreensão da morte
Você sairá fortalecido desse momento de horror. Aqueles que você amou permanecem firmes e intercederão junto ao infinito – que você pode chamar de Deus – para que haja compreensão do significado insondável desta misteriosa jornada que é a existência. E, por fim, assim você despertará para a vida. E, enfim, aqueles que partiram descansarão – em paz.
*FERNANDA VAN DER LAAN É PSICÓLOGA / @fernandissima
Fonte: © TNH1
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