Arnóbio Henrique Cavalcante Melo condenado a 37 anos, dois meses e sete dias de prisão por homicídio triplamente qualificado e feminicídio. Advogado de réu usou fraude processual e laudos falsos.
Joana Mendes foi vítima de um crime brutal que chocou a todos: foram 32 facadas aplicadas pelo réu condenado Arnóbio Henrique Cavalcante Melo. A sentença de 37 anos, dois meses e sete dias de prisão foi proferida na madrugada desta terça-feira, 2 de abril.
O assassinato de Joana Mendes pela ex-companheira deixou uma marca indelével na sociedade, reforçando a importância de medidas preventivas e de apoio às vítimas de violência doméstica. A condenação do réu Arnóbio Henrique Cavalcante Melo é um marco no combate a crimes tão hediondos como esse.
Julgamento do Assassinato de Joana Mendes, Ex-Companheira, chega ao fim em Alagoas
Após cometer o homicídio triplamente qualificado, Arnóbio abandonou Joana, que veio a óbito depois de sangrar por mais de 15 minutos, sem ter tido a chance de sequer pedir socorro. Para o Ministério Público do Estado de Alagoas, a justiça foi feita, o que vai permitir à família poder encerrar um ciclo de espera que durou quase oito anos.
O réu também foi sentenciado na qualificadora de feminicídio, que é o ódio contra a mulher. Ele era machista e misógino. Sabemos que a condenação não trará a alegria da Joana de volta, mas, ela, pelo menos, deixa a todos nós com o sentimento de que a lei foi cumprida e que o assassino recebeu a reprimenda merecida.
‘Ele é um homem covarde, frio e um mentiroso contumaz’, afirmou o promotor de Justiça Antônio Vilas Boas, titular da 47ª Promotoria de Justiça da Capital. Joana Mendes (Arquivo Pessoal) Fraude processual O promotor de Justiça também falou em fraude processual, alegando que o acusado acostou aos autos dois relatórios psiquiátricos falsos. Tais documentos sugeriam problemas mentais em Arnóbio.
Segundo a acusação, a Seris respondeu que o médico jamais esteve na Penitenciária Baldomero Cavalcanti. ‘O segundo relatório, de 2023, foi apresentado numa data que jamais poderia ser verdadeira. O motivo é que, em julho do ano passado, o réu já estava solto, após um habeas corpus concedido pelo Superior Tribunal de Justiça.
Após o término das audiências, Júlia Mendes, irmã de Joana, fez um emocionante relato sobre a relação abusiva que a vítima vivia com o réu. ‘Ele é tão do mal que, para surpresa nossa, expulsou a Joana do apartamento que o meu pai pagava para eles morarem. Inclusive, botou a Joana pra fora de casa com o bebê no colo’, explicou a irmã da vítima.
Depoimentos e Testemunhos no Julgamento do Assassino de Joana Mendes
Ao todo, foram ouvidos cinco declarantes da acusação: Hudson Cavalcante – tio do réu, Danielle Paiva – melhor amiga de Joana, Wolfran Cerqueira – primo da vítima, Damiana Gouveia – empregada doméstica da família de Arnóbio, e, por fim, Júlia Mendes, irmã de Joana Mendes.
Já os declarantes da defesa foram todos dispensados. O primeiro declarante ouvido foi Hudson Cavalcante Ferreira, 53 anos, tio do réu. Ele informou que, no dia do crime, havia recebido uma ligação de Pedro, irmão de Arnóbio. Ele teria entrado em contato com Hudson para informar que o denunciante teria feito algo contra Joana, mas não sabia o que havia acontecido.
Relacionamento abusivo Em seguida, o promotor de Justiça passou a ouvir Daniele Elizabete Franco, amiga de infância da vítima. Ela informou que logo após iniciar o relacionamento com o réu, Joana mudou os seus hábitos e comportamentos, agindo de forma mais contida. Daniele destacou que a vítima chegou a expressar a sua insatisfação com a relação.
‘Ela disse que não aguentava mais e iria esperar o filho deles nascer para deixar o marido’, relatou. Daniele disse que chegou a presenciar a forma agressiva como Arnóbio tratava a vítima. Ao subir ao apartamento do casal, antes de um passeio entre amigas, a testemunha ouviu o réu proferir xingamentos contra a esposa e as suas amigas.
‘Ele disse que nós éramos vadias e que estávamos atrás de macho na rua’, relembrou Daniele. Nesse momento, ela disse que sentiu vontade de adentar no apartamento para defender a amiga, mas se conteve. ‘Eu esperei a Joana sair. Ela desceu aos prantos, não parava de chorar e disse que não merecia isso’, afirmou Daniele.
Além desse episódio, ela informou que a vítima sempre aparecia com manchas roxas pelo corpo e dizia que tinha sido algum acidente doméstico. Primo confirma relação tóxica Wolfran Cerqueira Mendes, prima da vítima, também acompanhou o relacionamento conturbado entre o casal.
Ele informou que, no segundo semestre de 2015, Antonio Jorge, pai de Joana, tinha-o convidado para ir até a residência do casal buscar Joana, pois ela estaria decidida a sair de casa e cortar os laços com Arnóbio. Na época, a família cogitou fazer uma denúncia na Delegacia da Mulher, mas a ideia foi descartada por conta do filho do casal.
Tempo depois, Joana havia entrado em contato com Arnóbio para oficializar a situação referente à guarda da criança, pois ela estava pensando em se mudar para o estado de Minas Gerais. De acordo com Wolfran, tudo indicava que a questão iria se resolver pacificamente. Joana, inclusive, havia informado a ele que iria se encontrar com a advogada do réu para assinar o acordo.
Você tem ideia do que é ver uma criança que coloquei no braço esfaqueada?’, emocionou-se o primo. Foi Wolfran, inclusive, que sugeriu à família que o velório fosse com o caixão fechado por conta das facadas que levaram a vítima à morte. Na sequência, foi ouvida Damiana Gouveia que, à época, trabalhava como secretária do lar na cada da avô de Arnóbio Cavalcante.
Os interrogatórios foram encerrados com o depoimento de Júlia Mendes. Ela relembrou a alegria da irmã, contou que o réu manipulava a vítima e praticava todos os tipos de violência contra Joana, a exemplo da física, da patrimonial e da psicológica. ‘Ele é tão do mal que, para surpresa nossa, expulsou a Joana do apartamento que o meu pai pagava para eles morarem.
Condenação Depois de mais de 15 horas de júri, a sentença foi prolatada pelo juiz Yulli Rotter, titular da 7ª Vara Criminal da Capital. Arnóbio foi condenado a 37 anos, dois meses e sete dias de prisão, além de mais R$ 150 mil de indenização por danos morais.
‘Não comemoro a prisão e nem a condenação de ninguém, mas, congratulo com a justiça e com a honra e memória de Joana Mendes’, afirmou o advogado e assistente de acusação Roberto Moura, que também é presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB/Alagoas.
Fonte: © TNH1
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