A China enfrenta crise humanitária com envelhecimento da população e falta de cuidados para idosos. Redes de assistência social e programas governamentais podem ser insuficientes.
Conversando com a agricultora Mei Yee, de 65 anos, sobre sua aposentadoria, ela solta um suspiro cansado. Sentada em sua cadeira de balanço, ela olha para o horizonte e balança a cabeça decepcionada. ‘Na verdade, a aposentadoria parece algo distante para mim’, desabafa. Mei Yee faz parte de um grupo de trabalhadores que não tiveram a oportunidade de contribuir para um fundo de previdência durante sua vida profissional.
No entanto, Mei Yee é grata pela pensão que recebe do governo como forma de suporte financeiro. Ela conta que, apesar de modesta, a pensão ajuda a garantir o básico, como comida e remédios. ‘Receber a pensão me traz um pouco de conforto nessa fase da vida’, ressalta. Mesmo assim, ela admite que, muitas vezes, precisa contar com a ajuda da família para complementar o valor da pensão.
Enfrentando a Crise na Aposentadoria
E, como muitos trabalhadores rurais e migrantes, ele não tem outra escolha a não ser continuar a trabalhar e a ganhar seu sustento, pois não pode confiar na rede de assistência social do país. Uma economia em desaceleração, a redução de programas governamentais e a política do filho único que durou décadas criaram uma crise demográfica crescente na China de Xi Jinping.
A previdência está se deteriorando e o país está ficando para trás na corrida contra o tempo para reunir dinheiro suficiente para sustentar o número crescente de idosos. Na próxima década, cerca de 300 milhões de pessoas, que atualmente têm entre 50 e 60 anos, deverão deixar a força de trabalho chinesa. Quem cuidará deles?
Casas de Repouso e a Realidade da Aposentadoria
Situado na província de Liaoning, Cao e a esposa, casados há mais de 45 anos, vivem em um contexto marcado pela demografia envelhecida e a migração dos jovens em busca de melhores oportunidades nos centros urbanos. Os filhos de Cao também se mudaram, mas ainda estão perto o suficiente para visitar os pais com frequência. ‘Acho que só poderei continuar fazendo isso por mais quatro ou cinco anos’, diz Cao, refletindo sobre seu futuro incerto na aposentadoria. Dentro de sua pequena casa, as chamas crepitam sob uma plataforma aquecida, chamada kang, a principal fonte de aquecimento ali. Eles terão que depender da filha e enfrentar os desafios da falta de pensão e assistência governamental.
Abordando a questão da dependência dos filhos na velhice, as casas de repouso se tornam uma opção para muitos idosos na China. Guohui Tang, ex-operadora de escavadeira, viu no cuidado de idosos uma forma de financiar sua própria aposentadoria. Ela abriu uma pequena casa de repouso, onde os idosos dependem inteiramente de seus filhos para sobreviver. Tang cultiva alimentos para preencher as refeições de seis moradores da casa de repouso, refletindo a realidade de muitos idosos que não possuem pensão e dependem exclusivamente de seus familiares.
A Previdência e os Desafios Futuros
Com a iminente crise demográfica e a disparidade nas políticas de aposentadoria, a China enfrenta um dilema crescente. A Academia Chinesa de Ciências estima que a previdência poderá ficar sem dinheiro até 2035, exigindo ação imediata para evitar uma crise humanitária. A pandemia afetou a economia do país, tornando ainda mais premente a necessidade de reformas nas políticas de aposentadoria.
Com um sistema de aposentadoria de idades relativamente baixas em comparação com outros países, a China se vê diante do desafio de sustentar uma população envelhecida. Os idosos enfrentam a dura realidade de depender da assistência governamental e dos rendimentos de suas aposentadorias para sobreviver. O aumento das idades de aposentadoria e a pressão sobre o sistema previdenciário são questões urgentes a serem abordadas.
Novos Caminhos na Aposentadoria
Diante desses desafios, surgem novas formas de encarar a aposentadoria na China. Envolvidos na chamada ‘economia dos cabelos prateados’, indivíduos como Shuishui, uma ex-empresária que se tornou modelo, buscam redefinir a imagem do envelhecimento. Ela e outras mulheres acima de 55 anos participam de sessões de fotos e atividades que desafiam os estereótipos sobre a velhice.
Enquanto alguns idosos encontram oportunidades para reinventar suas vidas na aposentadoria, muitos ainda enfrentam dificuldades decorrentes da falta de apoio financeiro e familiar. A realidade contrastante entre aqueles que podem arcar com casas de repouso privadas e aqueles que lutam para sobreviver destaca as desigualdades presentes no sistema previdenciário chinês. A busca por soluções que garantam a segurança e o bem-estar dos idosos é essencial para enfrentar os desafios de uma população envelhecida.
Os idosos na China estão escrevendo novos capítulos em suas vidas, enfrentando desafios sem precedentes e buscando maneiras inovadoras de viver a aposentadoria. A imagem de um envelhecimento digno se contrapõe à realidade de muitos que lutam para garantir um futuro seguro. Enquanto a China enfrenta uma crise demográfica crescente, a necessidade de reformas e investimentos em programas de assistência social e previdência se torna cada vez mais urgente para garantir um futuro sustentável para a população idosa.
Fonte: © G1 – Globo Mundo
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