Estudo inspirado nas matérias preferidas de Franciele Meira resulta em pesquisa de iniciação. Concorre em feira científica com definições pejorativas para prêmio de primeiro lugar.
Racismo é um tema que permeia diversas esferas da sociedade e se manifesta de formas sutis e explícitas. Ao analisar a definição de palavras relacionadas à raça em dicionários, é possível identificar como o racismo está enraizado até mesmo em ferramentas aparentemente neutras. A conscientização sobre a influência do racismo em instrumentos como os dicionários é fundamental para promover a igualdade e a justiça social.
A luta contra a discriminação e o preconceito racial requer uma constante reflexão e ação coletiva. É essencial combater a intolerância em todas as suas formas, incluindo a linguagem presente em ferramentas tão tradicionais como os dicionários. Reconhecer e questionar as definições que perpetuam o racismo é um passo importante rumo a uma sociedade mais inclusiva e equitativa.
Explorando o racismo nos dicionários através de uma pesquisa de iniciação científica
A maioria dos dicionários analisados continham definições pejorativas relacionadas ao termo ‘negro’ e ‘preto’. Essa pesquisa minuciosa valeu à estudante o prêmio de primeiro lugar na categoria Ciências Humanas da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace) 2024, após competir com 43 projetos finalistas da feira de iniciação científica para jovens. Um reconhecimento merecido por sua abordagem inovadora e sensível diante de um tema tão relevante como o racismo.
A ideia para o estudo surgiu do interesse da aluna pelas questões sociais, especialmente pelo fato de fazer parte da comunidade negra. Sua motivação em estudar algo que a afetasse diretamente foi o impulso para investigar a representação histórica do negro. Como ela mesma descreve, ‘Gosto muito da parte de Ciências Sociais e sou uma pessoa que está na comunidade negra. Queria estudar o que tivesse entrelaçado comigo.’
Inicialmente, o foco da análise seria em crônicas ou literatura brasileira, porém, a sugestão do professor a direcionou para os dicionários. Essas obras, muitas vezes consideradas imparciais e definitivas, revelaram, através da pesquisa, um viés racista surpreendente. Como apontado pela estudante Franciele, ‘Temos que ter uma ideia de que as coisas que são colocadas nos dicionários representam uma ideia da sociedade.’
Ao examinar as definições de ‘negro’ e ‘preto’, a pesquisadora se deparou com interpretações desumanizantes e depreciativas, como ‘indivíduo sem alma’ ou ‘indivíduo comercializável’. Além disso, esses termos eram frequentemente associados a escravidão, trabalho árduo e características negativas. A constatação de que mesmo dicionários contemporâneos mantêm essas concepções racistas foi um choque.
Franciele destaca a importância de ser crítica em relação aos discursos e de questionar as representações historicamente enraizadas. Aprendeu uma nova abordagem para analisar os discursos de forma mais criteriosa. Segundo ela, ‘Aprendi uma nova metodologia de como ver discurso.’
Esse estudo exemplar oferece uma reflexão profunda sobre como o racismo está intrinsecamente presente até mesmo em obras aparentemente neutras como os dicionários. A pesquisa de Franciele abre caminho para uma discussão mais ampla e urgente sobre a necessidade de rever e reconstruir narrativas que perpetuam a discriminação e o preconceito.
Fonte: @ CNN Brasil
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