Vídeo sobre desafios de seleção em busca de identidade: efeitos colaterais, projetos esportivos, falta de estabilidade, guinadas radicais em modelos posicionais.
Uma das consequências da ausência de estabilidade e planejamento esportivo em um time de futebol é a complexidade de estabelecer identidade nessa equipe. E quando se trata de carência de direção, o período mais recente da seleção brasileira é um exemplo marcante.
Além disso, a identidade de um time não se limita apenas às suas vitórias e derrotas, mas também está intrinsecamente ligada à personalidade de seus jogadores e ao caráter do técnico. Esses elementos combinados criam a singularidade que torna cada equipe única. A busca por essa essência é fundamental para o sucesso a longo prazo no mundo do futebol.
Identidade em Transformação nos Jogos de Preparação
Nada chamou mais atenção nos dois amistosos de preparação para a Copa América, os empates com México e Estados Unidos, do que a guinada radical de estilo em relação ao que o time propusera nas partidas anteriores com Dorival Júnior, diante de Inglaterra e Espanha. Principalmente no modelo ofensivo.
Especialmente em Wembley, a seleção parecia buscar um jogo de muita mobilidade e aproximações em torno da bola. Apenas Raphinha tinha um papel mais fixo na direita. A partir daí, Rodygo movia-se a partir da função de ‘falso 9’, Vinícius Júnior vinha da esquerda para o centro, e ali os atacantes encontravam Paquetá, ao menos um dos volantes e por vezes um dos laterais.
Contra os Estados Unidos, a ideia era radicalmente diferente. Pelo segundo jogo seguido, o Brasil parecia excessivamente preocupado em manter um desenho mais rígido, com jogadores ocupando zonas definidas do campo, num sistema muito mais posicional. O vídeo abaixo mostra como o Brasil se organizava para atacar e que riscos corria ao defender.
O ponto central não é discutir se o Brasil deve jogar de uma forma ou de outra. A questão é que, desde o Mundial do Catar, a falta de um projeto esportivo na CBF impediu que o time tivesse um norte. Especialmente em seu segundo ciclo na seleção, Tite se inclinou por um modelo posicional, mas teve tempo para implantá-lo e para chegar ao Mundial com um bom nível de desempenho.
Após a Copa, o Brasil viveu um limbo, uma sucessão de incertezas. Teve Ramon Menezes como interino e, em seguida, apostou em Fernando Diniz num trabalho também temporário. E o técnico do Fluminense trouxe com ele seu estilo de aposta radical em aproximações em torno da bola. Enquanto isso, a CBF jurava que Ancelotti viria para sucedê-lo.
Antes mesmo de o time se adaptar ao que pretendia Diniz, o interino foi demitido, o plano Ancelotti fez água e, em março passado, a três meses da Copa América, chegava Dorival. Nada mais natural que, hoje, a seleção seja um time em busca de entender que tipo de futebol vai praticar.
Hoje, Dorival parece inclinado a ter uma saída de bola com os dois zagueiros, os dois laterais e dois volantes à frente da linha de defesa. Mais adiante, mantém Raphinha bem aberto na direita e Vinícius Júnior ou Rodrygo alternando funções: um aberto na esquerda, outro no centro do ataque, onde ganha a companhia de Lucas Paquetá, este atuando quase como segundo atacante.
A questão é que, neste momento da implantação do modelo, o jogo ainda não parece fluir com naturalidade. Há trocas de posições, alternâncias de jogadores ocupando cada zona, mas a rigidez ainda não tem permitido que, ao definir as jogadas, apareçam movimentos para surpreender defesas rivais: as ultrapassagens dos laterais são raras, assim como as infiltrações de um dos volantes e, principalmente, as associações entre Vinícius, Rodrygo e Paquetá.
Além disso, nos momentos em que vira um ponta esquerda, Vinícius parece não oferecer todo o seu melhor repertório atual. O Brasil criou chances para vencer os desafios, mas a instabilidade identitária ainda se faz presente nos efeitos colaterais dos projetos esportivos em curso. A busca pela singularidade em meio à falta de definição de estilo resulta em guinadas radicais que desafiam os modelos posicionais estabelecidos. A identidade do time se encontra em constante evolução, em meio a uma busca por uma característica que defina sua personalidade em campo.
Fonte: © GE – Globo Esportes
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