Estudantes de instituições privadas trabalham para pagar o curso, deixando pouco tempo para aulas.
Na região metropolitana de São Paulo, onde a escala 6×1 foi aprovada, a população enfrenta seu primeiro fim de semana de adaptação. Com as novas regras, o horário de funcionamento de estabelecimentos de diversão pública será de 10h às 2h30, enquanto os de alimentação poderão operar de 10h às 0h30. Mudanças semelhantes ainda não ocorreram em outras cidades.
A decisão de aprovar a escala 6×1 em São Paulo foi tomada após uma longa discussão entre representantes do governo e da sociedade civil. Apesar disso, muitas pessoas ainda estão incertas sobre o impacto real da medida. Alguns argumentam que a mudança é necessária para preservar o tempo de descanso e evitar aglomerações, enquanto outros acreditam que ela poderá afetar negativamente o setor de serviços e a economia da cidade. Com a escala 6×1, estabelecimentos de luxo, como bares e restaurantes, estarão autorizados a operar durante os horários permitidos, mas com uma atenção especial para evitar excessos.
Tempo: o luxo precioso que falta aos estudantes
Sou professor de faculdade há quinze anos e venho constatando que a escala de trabalho 6×1 é uma grande dificuldade para atender ao mínimo de tempo que um curso superior exige. Dando aulas para estudantes que trabalham seis dias por semana em shoppings, redes de lanchonetes, no comércio e similares, escuto constantemente a reclamação sobre a falta de tempo. Com a escala 6×1, escravizante, estudar é um luxo que jovens periféricos não podem se dar. A vida é gasta basicamente no seguinte:
Tempo: a preciosa escala de um luxo
– Trânsito: pode colocar umas quatro horas;
– Trabalho: em geral, oito horas;
– Trabalho: em geral, oito horas.
Foi metade do dia. Aí vai pra faculdade. Faculdade: três horas, mais ou menos de sete até dez da noite. Foram 15 horas. Nessa conta apertadinha, sobrariam nove horas para fazer outras coisas. Mas quem é do corre em São Paulo sabe que não dispõe de nove horas livres por dia. Falta tempo para o básico, como ler textos indicados pelos professores e fazer trabalhos. Na maioria dos cursos de graduação, são de três a cinco disciplinas por semestre. Aí vem o meritocrata e diz ‘tem que estudar no dia livre, varar madrugadas’. Não tem, embora há quem faça, pelos motivos mais justificáveis do mundo.
Tempo: o luxo precioso para o corpo e a mente
Sabe qual a utopia? Ter tempo para descansar corpo e mente, ler um livro, ir ao cinema, construir de fato uma formação cultural mínima. Mas nem a formação para a qual a pessoa está se formando é plenamente possível. E não por dilemas educacionais profundos, complexos, não; simplesmente pela falta de tempo, uma questão cruamente matemática, lógica. Não sei se, dado o eventual passo civilizatório da abolição da escala 6×1, o ensino superior vai melhorar. Mas com certeza o professor poderá cobrar mais, em contexto mais favorável, e poderá, inclusive, rechaçar desculpas esfarrapadas de quem não corre atrás, mas usa a real dificidade alheia para justificar sua inação.
Fonte: @ Terra
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