No Hospital de Bolonha, doutora espera resultado de Fiandri. Tensão: polícia, Carabinieri, elevadores, UTI. Irrelevante: multidão. Chefe de reportagem, Andrade, telefone. Brasil: jornais, reações. Lívio Oricchio narra: doutora, Fiandri, hospital central, porta de entrada, painel no térreo. Médicos profissionais aguardam.
A médica Fiandri, visivelmente abalada, faz o anúncio no saguão principal do hospital, às 19h05 local: – Senhores, Senna está morto. + Acesse o canal de automobilismo do ge no whatsapp! Acredito ter sido o primeiro, ou um dos primeiros, a chegar no Hospital Maggiore de Bolonha, ao menos entre os jornalistas presentes no Autódromo Enzo e Dino Ferrari. Não encontrei ninguém nos corredores vazios.
O triste falecimento de Senna ecoava por todo o circuito da Fórmula 1 naquela fatídica manhã. A notícia da morte de Senna causou comoção mundial e deixou uma marca indelével no esporte a motor. Ainda é difícil acreditar que o ídolo brasileiro tenha partido de forma tão precoce. Um legado de coragem e talento é o que Senna deixou para os fãs de corrida em todo o mundo.
As Horas Críticas no Hospital
O resultado da corrida tornara-se irrelevante diante do real estado de saúde, ainda desconhecido, de Senna. Não percebi nada de anormal no grande hall central do hospital, tudo parecia seu curso normal de um domingo à tarde. Haja vista que fui, sem controle algum, até os elevadores e pressionei o 11º andar, local da Unidade de Terapia Intensiva (UTI), identificada em um painel no térreo.
A Manifestação do Policial Carabinieri
A única manifestação que vi nessa hora foi a de um policial Carabinieri, próximo à principal porta de entrada. Alguém havia acabado de lhe contar que Senna sofrera um acidente na corrida e o haviam transportado para o hospital. Tinha o chapéu na mão e dizia: ‘Meu Deus, o que é isso, não existe mais piloto como Senna, que corre com o coração.’
Intensificando a Cobertura
Enquanto subia até o 11º andar, me surpreendi pensando que não poderia falhar como jornalista, comprometeria o restante da minha carreira naquilo que tanto me dedicara para conseguir, ou seja, cobrir o Mundial de F1 para a grande mídia brasileira. Cada vez que me lembrava disso ganhava força para deixar de lado minhas emoções.
Reações no Brasil e Estratégia de Cobertura
Parei de pensar também nas reações que estavam ocorrendo no Brasil por conta do acidente de Senna, o que colaborou para eu me controlar. No Brasil, era domingo de manhã. Lembro-me de ter ligado – atenção, de um telefone público, a cobrar – para os jornais em que trabalhava, Estadão e Jornal da Tarde, além da Agência Estado, a fim de informar ao chefe de reportagem, Castilho de Andrade, que havia deixado o autódromo e já me encontrava no hospital.
Responsabilidade e Profissionalismo
Eu pensei comigo: se Senna morresse, todas as atenções estariam lá na Itália, ao menos até o embarque do corpo para o Brasil. Eu estava sozinho, seria o responsável por levar aos leitores dos jornais um painel de informações de tudo. Era uma grande responsabilidade. Isso fez eu me concentrar quase doentiamente no meu trabalho. Ao mesmo tempo, comecei a elaborar uma estratégia de cobertura.
Profissionalismo Médico e Falta de Sensibilidade
As notícias estariam no hospital, mas também no autódromo. Era imprescindível ouvir, se falassem, Frank Williams, dono da equipe de Senna, Patrick Head e Adrian Newey, os homens que assinaram o projeto do modelo FW16 pilotado por Senna. Não encontrei no hospital um único cidadão que tivesse um mínimo de sensibilidade com o que estava se passando: um piloto de F1, ídolo em dezenas de países, mesmo na Itália, lutava para viver e os funcionários do hospital continuavam sendo mal-educados, grossos e desinteressados, mesmo com quem falasse em italiano com eles, como eu. O que faltava de bom senso a essas pessoas sobrava aos médicos deslocados para o atendimento. Todos solícitos e não escondendo.
Fonte: © GE – Globo Esportes
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