Leis incentivam cultivo de florestas plantadas no RS, preocupando pesquisadores com expansão desse segmento agroindustrial e impactos ambientais.
Plantio de eucalipto em Arroio do Meio, no Rio Grande do Sul Imagem: Getty Images / BBC News Brasil Na quarta-feira, dia 8 de maio, a Assembleia Legislativa aprovou uma mudança na Política Nacional do Meio Ambiente: o projeto de lei 1366/22, do Senado, que retirou da lista de atividades potencialmente poluidoras e utilizadoras de recursos ambientais a silvicultura, setor agroindustrial que cultiva bosques de eucalipto e pinus para extrair celulose do rol de atividades potencialmente poluidoras e que utilizam recursos ambientais. Se a medida for sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o setor não precisará mais de licenciamento ambiental, nem estará sujeito ao pagamento da Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental (TFCA).
As áreas florestais de eucalipto são fundamentais para a economia do país, gerando empregos e impulsionando o desenvolvimento sustentável. O plantio de eucalipto é uma prática comum em diversas regiões, contribuindo para a preservação do meio ambiente e para a produção de celulose. A expansão dos bosques de eucalipto traz benefícios econômicos e ambientais, fortalecendo a indústria e promovendo a conservação das florestas.
Impacto das Florestas de Eucalipto no Bioma Pampa
No chão dos bosques de pinus ilhotes ou de eucalipto, por exemplo, não há nada: ausência de minhocas, ausência de samambaias, os troncos não possuem nem líquen; é verdadeiramente um deserto verde. Esses arvoredos inibem qualquer outra espécie, caracterizando uma monocultura que compromete a biodiversidade. São os desertos verdes, conforme destaca o pesquisador Rualdo Menegat, geólogo, doutor em Ciências na área de Ecologia de Paisagem e docente da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
A expansão acelerada e o relaxamento das normas que promovem a silvicultura no Rio Grande do Sul estão gerando preocupações entre pesquisadores e ambientalistas. O bioma Pampa, que de acordo com o MapBiomas é o mais afetado em termos de perda de vegetação e área natural nas últimas quatro décadas, está se tornando ainda mais suscetível a inundações e a eventos climáticos extremos, como as chuvas intensas que tendem a se tornar mais frequentes.
Entre 1985 e 2022, a área destinada ao plantio comercial de árvores como pinus e eucalipto aumentou mais de 17 vezes, atingindo 1,195 milhão de hectares, conforme dados do MapBiomas. No Brasil, a expansão foi de 7,3 milhões de hectares, sendo a maior parte desse avanço (61%) realizada em áreas de pastagem e agricultura.
A aprovação de leis em esfera federal e estadual que, segundo seus opositores, relaxam o controle sobre a silvicultura, pode ampliar ainda mais esse processo e seus impactos. As empresas do segmento argumentam que houve uma correção de uma distorção que aplicava ao setor, que é agroindustrial, as mesmas normas impostas a indústrias consideradas poluentes. Alegam também que a atividade investe em práticas voltadas à sustentabilidade e atua apenas em áreas previamente degradadas pela agricultura, seguindo padrões de regulação internacionais, com práticas certificadas por auditorias externas e independentes.
A contínua expansão das áreas florestais de eucalipto levanta questões sobre o licenciamento ambiental e a Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental. A monocultura em larga escala desses bosques de eucalipto, apesar de captar carbono, apresenta desvantagens semelhantes às demais atividades agrícolas voltadas para a produtividade em larga escala, dependendo de uma grande quantidade de água e insumos como pesticidas e agroquímicos para prosperar. Reproduzidas por meio de técnicas de clonagem para acelerar a produção e qualidade da madeira e da celulose, essas imensas florestas de árvores homogêneas carecem da biodiversidade das florestas naturais e da mata nativa.
Fonte: @ Terra
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