Instituições britânicas ignoram a falta de competências linguísticas de estudantes estrangeiros, que pagam caras taxas para cursos de mestrado no idioma inglês, sem requisitos específicos.
Yasmin, uma estudante universitária de origem iraniana, expressou sua surpresa e desapontamento ao descobrir que muitos de seus colegas de curso tinham um conhecimento limitado de inglês, idioma que é predominante no Reino Unido, e apenas um ou dois eram de nacionalidade britânica. Ela questionava a viabilidade de continuar com o mestrado em um ambiente acadêmico onde o inglês não era amplamente compreendido pelos colegas.
Yasmin, que se mudou do Irã para o Reino Unido para realizar seu mestrado, sentiu-se chocada ao perceber que muitos de seus colegas enfrentavam dificuldades para entender o sotaque britânico e o inglês em geral. Isso levou ela a questionar como era possível avançar no curso acadêmico sem uma compreensão eficaz do idioma predominante em seu novo ambiente. A falta de conhecimento de inglês limitava sua capacidade de interagir efetivamente com os colegas.
Legislação inadequada causa desvios no mercado universitário
O sistema universitário britânico enfrenta uma crise devido à falta de regulamentação sobre a competência em inglês dos estudantes internacionais. Muitos pagam agentes para registrar sua frequência às aulas, enquanto outros têm inglês inadequado para acessar os cursos. A Universities UK, organização que representa 141 instituições de ensino superior, rejeita as alegações, afirmando que existem requisitos linguísticos rigorosos para estudantes vindos do exterior.
Segundo Jo Grady, da UCU, que representa 120 mil professores e funcionários universitários, é de conhecimento geral que estudantes com conhecimentos inadequados de inglês encontram maneiras de se inscrever nos cursos. A experiência de Yasmin, estudante que pagava alguém para registrar sua frequência às aulas, é um exemplo disso. Ela explica que muitos estudantes pagavam pessoas para registrar sua frequência às aulas, e alguns até pagavam pessoas para fazer os cursos por eles.
Cerca de sete em cada 10 estudantes que frequentam mestrados na Inglaterra são estrangeiros, um número muito superior ao de outros tipos de cursos de ensino superior, afirma Rose Stephenson, do Higher Education Policy Institute. As taxas universitárias para estudantes nacionais de graduação são limitadas a 9.250 libras (R$ 70,5 mil) por ano, valor que será elevado a 9.535 libras (R$ 72,7 mil) por ano em 2025-26.
Cada uma das outras nações do Reino Unido estabelece seus próprios valores, mas as taxas para estudantes estrangeiros que estudam na Inglaterra não têm limite máximo. ‘Se pode cobrar de um estudante estrangeiro tanto quanto ele estiver disposto a pagar’, diz Stephenson. As taxas de pós-graduação também não têm limite, então um mestrado em uma universidade de elite pode custar 50 mil libras (R$ 380 mil).
Os estudantes internacionais estão, na verdade, subsidiando taxas mais baixas para os estudantes nacionais, afirma Stephenson. Um denunciante que trabalhava numa empresa que prepara estudantes internacionais para entrar em universidades britânicas disse à BBC que os agentes da empresa visavam famílias no exterior com dinheiro para pagar pelas altas taxas. É preciso estabelecer idioma como um requisito para os estudantes internacionais para evitar esses desvios.
Uma abordagem mais rigorosa para a avaliação da competência em inglês dos estudantes internacionais pode ajudar a evitar esses problemas. A experiência de Yasmin reflete uma preocupação crescente no Reino Unido, e a necessidade de reformar o sistema para garantir a qualidade da educação é imperativa.
Fonte: © G1 – Globo Mundo
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