Na realidade cotidiana, erros na gestão econômica e no envolvimento com o Congresso aumentam riscos no mercado financeiro.
Uma das vantagens de ensinar disciplinas ligadas à vida cotidiana é a capacidade de estabelecer a conexão entre a teoria e a prática, permitindo aos alunos compreenderem a percepção de risco de forma mais concreta. É fundamental envolver os estudantes na análise da teoria a partir das situações reais que enfrentam em seu cotidiano, o que contribui significativamente para a aprendizagem efetiva.
A percepção de risco dos alunos aumentou consideravelmente ao relacionar os conceitos teóricos com suas experiências diárias. Essa abordagem promove uma compreensão mais profunda dos temas abordados, incentivando a reflexão crítica e a aplicação prática do conhecimento adquirido. É essencial manter essa conexão entre teoria e prática para garantir um aprendizado significativo e duradouro. realidade
Reflexões sobre a percepção de risco no mercado financeiro
No meu caso, como instruo disciplinas relacionadas ao mercado financeiro, especialmente a gestão de renda fixa e variável, sempre há uma abundância de informações para analisar. Recentemente, conduzi uma avaliação na qual solicitei aos estudantes que, com base na ata do COPOM de maio, discutissem as consequências da redução de 0,25% ao ano na taxa básica de juros, em comparação com a expectativa de 0,50% ao ano, na economia, na rentabilidade dos ativos e no desempenho das empresas.
Na mesma semana, uma amiga me questionou sobre como as ações poderiam continuar em queda mesmo com a redução da taxa de juros e a melhoria da economia, que estava superando as expectativas. Entre a pergunta da minha amiga e as respostas dos alunos, percebi uma conexão subjacente: em ambos os casos, havia uma percepção de risco um tanto simplista, automatizada e uma falta de consideração pelo contexto.
Quando se trata da alta taxa de juros, é crucial lembrar que um legado da covid-19 foi a inflação provocada pela interrupção das cadeias globais de produção, juntamente com a pressão da demanda decorrente dos grandes déficits fiscais e da expansão monetária. A solução adotada pelos bancos centrais em todo o mundo foi o aumento das taxas de juros e a contração monetária.
Embora a desinflação tenha sido alcançada, foi menos intensa do que o esperado, ou seja, os preços ainda estão acima das metas de inflação em muitos países. Como resultado, o Federal Reserve dos EUA e o Banco Central Europeu mantêm suas taxas básicas de juros em níveis contracionistas.
No cenário internacional, a situação geopolítica permanece complexa, com os confrontos entre Rússia e Ucrânia, Israel e Hamas, e a constante ameaça de instabilidade no Oriente Médio. Dois fatores estruturais estão contribuindo para tornar a inflação mais resistente, afetando diretamente a capacidade de redução das taxas de juros: o arrefecimento da globalização e a transição energética.
Esses fatores devem continuar pressionando os custos e os preços nos próximos anos. A incerteza global tem levado à busca por ativos de proteção, evidenciando um aumento do medo. Este ano, os preços do ouro e da prata atingiram recordes, e os criptoativos continuam a subir rapidamente, apesar da volatilidade.
Diante desse contexto global, o Brasil precisa manter sua competitividade na atração de investimentos estrangeiros e enfrenta um limite para a redução da Selic. Aos olhos dos investidores estrangeiros, nossa taxa básica de juros deve ao menos compensar a taxa americana, juntamente com a percepção de risco do país. Quanto mais elevada for a taxa nos EUA, menor será o espaço para reduzir a taxa no Brasil.
Quanto à percepção de risco do país, a saída de recursos por parte dos investidores estrangeiros é um indicativo de que não está favorável. Nos primeiros cinco meses do ano, houve uma saída de capital que já totaliza quase US$ 35 bilhões.
Retornando à ata do Copom e à questão inicial sobre os motivos que levam à queda das ações mesmo com a redução da taxa de juros, é fundamental considerar a complexidade da realidade cotidiana e o envolvimento de diversos fatores no mercado financeiro e na gestão das taxas básicas de juros. A percepção de risco, que tem aumentado, desempenha um papel crucial nesse cenário em constante evolução.
Fonte: @ Valor Invest Globo
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