Escritor americano explora complexidades da alma humana em seu último livro, lançado no Brasil, abordando amor incondicional, luto, memória e morte, temas que marcaram seus 42 anos de carreira e 20 romances.
Quando o escritor americano Paul Auster faleceu em abril, aos 77 anos, vítima de câncer, ele sabia que havia deixado um legado eterno, um testemunho do seu amor pela literatura. Seu último livro, publicado seis meses antes, era um pequeno grande livro, com apenas 176 páginas, mas repleto de significado e emoção.
Esse livro, que pode ser considerado um adeus ao mundo, é uma reflexão sobre a vida, a dor e a saudade que nos acompanham até o fim. Nele, Auster compartilha suas experiências e pensamentos, criando uma obra que é ao mesmo tempo uma homenagem à vida e um tributo ao amor que nos faz humanos. A vida é curta, mas o amor é eterno. Com essa obra, Auster nos deixa um legado que será lembrado por gerações futuras, um testemunho do seu amor pela literatura e pela vida.
O Amor Incondicional e a Dor da Perda
Paul Auster, um dos maiores romancistas do mundo, nos presenteia com uma obra-prima que é ao mesmo tempo intensa, profunda e confessional. Em ‘Baumgartner’, ele aborda um tema caro a escritores sofisticados: o amor. Não apenas o amor, mas o amor incondicional, intenso, arrebatador e eterno, com toda a dor que isso implica quando se tem de lidar com a morte. É uma história que trata de luto e memória, sobre a impossibilidade de superar a perda e um esforço de conviver com a ausência de uma pessoa amada. A saudade, um sentimento que só existe na nossa língua, é o termo que melhor define essa dor.
A narrativa se passa quando o famoso escritor e professor de filosofia Sy Baumgartner está prestes a completar 70 anos e decide que chegou a hora de se aposentar. Ele é autor de nove livros e numerosos trabalhos mais curtos sobre questões filosóficas, estéticas e políticas, membro querido do corpo docente da Universidade Princeton durante os últimos 34 anos. Há exatos dez anos, ele sofre de forma quase desesperada por causa da morte da esposa Anna, uma respeitada tradutora e poetisa que nada publicou, vítima de afogamento em uma praia.
A Tristeza e a Saudade
Ele continua a viver no mesmo lugar onde foram felizes por 40 anos, preserva seu escritório com um amontoado de manuscritos, dois romances inacabados e 218 poemas — parte ele viria reunir em um livro que fez razoável sucesso. Por onde olha, Anna está silenciosamente presente. É uma tristeza tamanha que ele cuida de suas roupas, arruma-as de vez em quando e até manda para que sejam lavadas. Auster escreve: ‘E, se sua cabeça e seu coração haviam sido poupados do ataque, era apenas porque os deuses perversos e zombeteiros lhe tinham concedido o direito duvidoso de seguir vivendo sem ela. Agora ele era nada mais que o toco de um homem, um homem que perdera aquela metade de si que o fazia inteiro — e, sim, os membros perdidos ainda estavam lá, ainda doíam, doíam tanto que por vezes sentia que seu corpo estava prestes a pegar fogo e ser consumido ali mesmo.’
Durante os primeiros seis meses de viuvez, seu personagem viveu num estado de confusão mental tão profundo que, às vezes, despertava pela manhã e esquecia que Anna estava morta. A saudade e a dor da perda são sentimentos que permeiam toda a narrativa, mostrando como o amor pode ser ao mesmo tempo uma fonte de alegria e de sofrimento. Auster nos apresenta uma visão profunda e intensa do amor e da perda, mostrando como esses sentimentos podem mudar a vida de uma pessoa para sempre.
Fonte: @ NEO FEED
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