63% dos brasileiros têm experiência com jogos on-line. O comprometimento com apostas é de 8,38% da renda média e quase 20% do salário-mínimo ao lado do desastre financeiro.
Recentemente compartilhei aqui minha vivência com jogos. Foi em 2008. Uma experiência desastrosa. Perdi U$ 30 em fichas em menos de dez minutos. Fiquei tão chocado que nunca mais me arrisquei no mesmo. Talvez me arrisque em um carteado acompanhado de uma taça de vinho. Apreciar o vinho, é claro, mas me sinto mais satisfeito quando venço algumas rodadas. No entanto, esse é o meu limite. Infelizmente, nem todos têm a mesma sorte.
Os jogos são atividades que podem proporcionar diversão e entretenimento, mas é importante ter cautela para não ultrapassar os limites. A indústria dos jogos oferece uma variedade de opções, desde apostas até competições mais amigáveis. É fundamental saber quando parar e não deixar que a emoção tome conta. Afinal, a diversão deve ser o foco principal ao participar de jogos.
Jogos: Impacto nas Apostas e na Indústria
Um estudo recente divulgado pela Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC) em colaboração com a AGP Pesquisas, intitulado ‘Influência das atividades esportivas no comércio varejista brasileiro’, revelou dados alarmantes sobre o envolvimento dos brasileiros em jogos on-line. De acordo com a pesquisa, 63% dos brasileiros que se dedicam a essas atividades tiveram parte de sua renda comprometida.
Embora o estudo não especifique o percentual exato de comprometimento da renda, considerando a renda média do brasileiro nos primeiros três meses deste ano, conforme os dados do estudo ‘Retrato dos Rendimentos do Trabalho – Resultados da PNAD Contínua do Primeiro Trimestre de 2024’, e levando em conta que o gasto médio em sites de apostas é de R$ 263, é possível estimar que cerca de 8,38% da renda média e quase 20% do salário-mínimo são direcionados para essas atividades.
Em um cenário em que cada pequeno investimento contribui para um montante significativo, espera-se que a indústria de jogos movimente mais de R$ 130 bilhões este ano. O que mais chama a atenção nesse estudo é a origem dos fundos destinados às apostas.
Dentre os apostadores entrevistados, 23% abriram mão de comprar roupas, 19% reduziram suas despesas em supermercados, 14% cortaram gastos com produtos de higiene e beleza, e surpreendentemente, 11% diminuíram os investimentos em cuidados de saúde e medicamentos. Esse desvio de recursos para os jogos pode ter consequências sérias.
Sabemos que os jogos têm um potencial viciante, pois estimulam a liberação de dopamina, um neurotransmissor associado à sensação de prazer e motivação. Por outro lado, os jogos são atividades recreativas que, quando praticadas de forma equilibrada, podem proporcionar diversão e socialização, além de contribuir para o desenvolvimento de habilidades de maneira lúdica.
No entanto, o desastre ocorre quando esse equilíbrio é rompido. Apesar dos esforços para regulamentar essa atividade, é crucial analisar o impacto dos jogos sob diversas perspectivas: econômica, fiscal, financeira e de saúde. O transtorno relacionado à compulsão por jogos é reconhecido pela Classificação Internacional de Doenças (CID-10) como jogo patológico, destacando a dificuldade em estabelecer limites nessa prática.
A pesquisa da SBVC levanta preocupações sobre o dinheiro desviado para os jogos, que não circula na economia como em outros setores. Enquanto trocar gastos com roupas por viagens mantém o dinheiro em circulação, no caso dos jogos, essa dinâmica não se aplica. Essa atividade não contribui para o emprego, desenvolvimento setorial ou benefício social, sendo apenas, se regulamentada, uma fonte potencial de arrecadação de impostos. No entanto, atualmente, essa potencialidade ainda não se concretizou.
Fonte: @ Valor Invest Globo
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