A gestora de ativos alternativos Spectra, com R$ 7 bi sob gestão, investe em search funds. Seu novo fundo focará mais nesses ativos para aumentar o retorno financeiro.
No início de 2017, os sócios Renê Almeida e João Lima decidiram investir em novos empreendimentos e começaram uma busca minuciosa por oportunidades. Foram mais de 400 empresas analisadas nos setores de logística, segurança, monitoramento, locação e SaaS (Software as a Service). Após uma extensa pesquisa, eles finalmente encontraram uma empresa promissora para realizar um investimento: a Agasus, especializada em locação de notebooks e tablets, que apresentava um faturamento de R$ 38 milhões em maio de 2019.
O investimento na Agasus demonstrou a visão empreendedora e estratégica de Renê e João, que apostaram no potencial do negócio e colheram frutos significativos. Esse caso de sucesso inspira outros interessados em investir em novas oportunidades de aplicação financeira e reforça a importância do investidorismo no mercado atual. A decisão de investir em um setor em crescimento foi determinante para os sócios alcançarem resultados expressivos em seu investimento.
Investimento e faturamento: Uma combinação de sucesso
Quase cinco anos depois, eles já compraram mais três empresas (Microcity, JR1 Informática e Convex) e faturam mais de R$ 400 milhões, um salto de 10 vezes.
Por trás de Almeida e Lima, que unificaram todas essas empresas sob o nome de Voke, estava a Spectra, gestora de ativos alternativos com mais de R$ 7 bilhões sob gestão, que discretamente se tornou a maior investidora de search funds do Brasil. ‘Esse é um modelo pautado em investir em pessoas, com pouca experiência profissional, mas com bastante bagagem técnica.
Eles compram um ativo de pequeno e médio porte e destravam o crescimento’, diz Rafael Bassani, sócio da Spectra, ao NeoFeed. A Voke foi o primeiro investimento da Spectra na modalidade de search funds. Desde então, não parou mais.
A gestora já fez 13 investimentos em empresas como a desenvolvera de uma solução para antecipação de recebíveis Quick Soft, a plataforma de RH Nexti e o programa para provedores de internet MK Solutions. E conta, no momento, com 27 ‘searchers’, como são chamados os empreendedores que estão ‘buscando’ um ativo para comprar.
A importância da busca de investimento
No seu quarto fundo, aproximadamente 5% dos recursos foram investidos em search funds. No quinto, o investimento passou para 10%. No sexto, que ainda está em fase de captação, a previsão é chegar a 15%, algo entre R$ 200 milhões e R$ 300 milhões. ‘É um tipo de investimento com uma grande assimetria,’ afirma Bassani. O aumento da aposta da Spectra nessa modalidade de investimento tem um motivo.
Um relatório da universidade de Stanford, intitulado ‘Search Fund Study’, mostra que 66% dos search funds adquirem uma empresa. E destes, 73% geram retorno financeiro aos investidores – a taxa de retorno anual (TIR) tem se mantido na casa dos 30%, segundo o estudo.
A Spectra não tem ainda uma saída – afinal, são investimentos recentes –, mas também não contabilizou nenhuma quebra (os write-offs, segundo o jargão do setor). O portfólio, no entanto, já conta com empresas que são sondadas para um IPO (o caso da Voke) e outras que estão em processo de M&A, de acordo com Bassani – o que pode indicar que os primeiros exits estão começando a surgir no horizonte.
Como funciona o investidorismo em search funds
Os investimentos da Spectra seguem uma receita tradicional da maioria dos search funds. O plano consiste em encontrar profissionais que acabaram de fazer um MBA em alguma universidade de referência do mundo. Na Voke, Renê Almeida e João Lima haviam acabado de cursar a IE Business School, de Madrid, na Espanha.
Lucas Fiuza, da Quick Soft, havia concluído a Michigan Ross, da Universidade de Michigan. E Marcelo Gomes, da Nexti, fez MBA na Universidade de Chicago. ‘Poderia começar do zero e correr riscos’, diz Almeida, da Voke.
‘Mas no MBA descobri que existem outras formas de empreender, que é o empreendedorismo por aquisição.’ Escolhido os ‘searchers’, a Spectra, em conjunto com outros investidores, fornece recursos para que façam uma busca de um ativo para ser comprado.
O dinheiro dessa primeira fase – que fica na casa dos US$ 500 mil – são usados para bancar o ‘searcher’, para alugar um escritório, para contratar alguns funcionários e para pagar, ao menos, duas diligências. Rafael Bassani, sócio da Spectra O tempo médio de busca é de dois anos – mas os casos ouvidos para essa reportagem pelo NeoFeed foram maiores. A Voke, por exemplo, demorou 29 meses.
Na Quick Soft, foram 26 meses. E no caso da Nexti, três anos. ‘Assinei mais de 100 NDAs (contratos de confidencialidade), fiz 40 propostas e quatro aceitaram. E só uma deu certo’, diz Gomes, da Nexti. Após o alvo ser encontrado, os investidores podem definir se querem ou não seguir. É um modelo muito semelhante ao dos SPACs – Special-purpose acquisition company.
Os desafios e oportunidades do investimento em search funds no Brasil
A diferença é que, no caso do SPAC, após encontrar uma empresa, ela se torna pública. Nos search funds, não. Os investidores que desistirem do investimento na hora da aquisição recebem o dinheiro de volta e mais um valor adicional, como prêmio. Os que seguirem esperam a valorização da companhia para lucrar.
O dinheiro investido nos ‘searchers’ só é perdido se o empreendedor não conseguir comprar uma empresa – ou se a empresa não der certo. Os alvos também seguem uma lógica. Em geral, são empresas de pequeno e médio porte e cujo fundador não tem um sucessor claro ou não consegue levar a companhia para um novo patamar de faturamento.
A empresa precisa ter receita recorrente, margem Ebitda alta e não ser intensiva em capital. ‘A união desses três fatores fazem o modelo funcionar bem’, afirma Bassani, da Spectra. Do lado dos empreendedores, o que atrai é não começar do zero, como é o caso de uma startup. ‘A melhor parte é que eu corto caminho’, diz Lucas Fiuza, da Quick Soft.
‘Para fazer uma startup, você precisa passar cinco, dez anos escalando a empresa. Eu já parto de um tamanho médio.’ As empresas adquiridas já têm também tese comprovada e já passaram pelo ‘product market fit’. Em geral, estão em um momento que, para deslancharem, precisam não só de capital, mas também de gestores capazes de escalá-las.
É aí que entra a turma do MBA com o dinheiro dos investidores. Mas há riscos para os empreendedores. O principal é que eles não se tornam acionistas automaticamente da empresa – embora recebam uma remuneração de executivo. Só depois de devolverem todo o capital investido pelos investidores é que passam a ter uma fatia que pode variar de 20% a 30%.
Trata-se de um incentivo de longo prazo para comprometê-los a crescer a companhia adquirida. Renê Almeida e João Lima, sócios da Voke, a primeira investida da Spectra A Voke, por exemplo, além de multiplicar o faturamento por dez vezes, está presente em 4,2 mil municípios, tem 500 mil equipamentos alugados e conta com seis mil máquinas para pronta entrega.
A Nexti, por sua vez, viu sua receita mensal saltar de R$ 2 milhões para R$ 4 milhões e o número de usuários subir de 160 mil para 400 mil desde a aquisição. A Quick Soft não abre os números, mas os funcionários aumentaram de 60 para 100.
O crescimento do investidorismo em search funds no Brasil
Um levantamento que a Spectra fez com exclusividade para o NeoFeed mostra que os search funds estão começando a ganhar tração de forma tímida no Brasil – e a gestora é quem está dando esse impulso. De 2017 a 2020, o número de search funds ficou estável na América Latina, com sete negócios. Mas a partir de 2020, eles aumentam. Em 2021, foram 17.
No ano passado, 19. Os cheques médios, nos últimos dois anos no Brasil, ficaram em R$ 52 milhões – esse é o valor que os investidores desembolsam para comprar um ativo. Há ainda poucas gestoras que apostam nessa estratégia no Brasil. Além da Spectra, outro nome que está investindo nessa modalidade é a KVIV Ventures, de Raphael Klein, neto do fundador da Casas Bahia.
A Spectra coinveste no Brasil com os fundos americanos WSC e Relay – e tem também negócios em conjunto com a KVIV Ventures. E, de acordo com Bassani, muitos anjos acabam apostando nessa modalidade.
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Fonte: @ NEO FEED
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