Specialista em sexualidade e psiquiatra, Carmita Abdo discute como a internet transforma os comportamentos sexuais dos jovens dos Estados Unidos, menos transações e termos: práticas sexuais, presenciais, acesso fácil, interações sexuais virtuais, masturbatória, relações na geração Z, inteligência artificial.
Foto: Léo Souza/Entrevista com Carmita Abdo Psiquiatra e professora da Faculdade de Medicina da USP. Enquanto a geração Z cresceu imersa na era digital, com uma infinidade de informações ao alcance dos dedos e uma conexão constante com o mundo virtual, também é importante destacar que esses jovens nascidos entre 1995 e 2010 estão moldando novos padrões de comportamento e interação social.
Por outro lado, mesmo com a facilidade de acesso a conteúdos diversos, como a pornografia online, estudos revelam que essa geração está optando por experiências diferentes das gerações anteriores. A relação com o sexo está se transformando, e cada vez mais se discute a importância de compreender as nuances e peculiaridades desse cenário para oferecer um suporte adequado aos jovens nascidos entre 1995 e 2010. Essa dinâmica complexa abre espaço para reflexões e abordagens inovadoras no campo da psicologia e da saúde mental.
Compreendendo a Geração Z e Suas Práticas Sexuais
Mas o que explica esse paradoxo sobre o comportamento sexual dos jovens nascidos entre 1995 e 2010? Para a renomada psiquiatra Carmita Abdo, professora da Faculdade de Medicina da USP e uma das maiores especialistas em sexualidade do país, a resposta está nas práticas sexuais presenciais e no fácil acesso às experiências virtuais.
A geração Z, composta por jovens que estão cada vez mais imersos no mundo digital, nem sempre demonstra interesse em levar suas vivências sexuais do ambiente online para o cenário físico. Segundo a Dra. Carmita, é crucial compreender que tipo de interações sexuais estamos analisando ao conduzir estudos nesse contexto.
‘Eles não estão necessariamente buscando aquela conexão cara a cara, corpo a corpo. Ainda não estão nesse estágio, mas desde uma idade precoce, por volta dos 11 anos, estão explorando conteúdo erótico, iniciando sua jornada de forma masturbatória diante de telas. Posteriormente, podem buscar parcerias online e, em muitos casos, passam longos períodos sem sentir a necessidade de um encontro físico’, destaca a especialista, autora do livro ‘Sexo no Cotidiano’.
A iniciação mais tardia em práticas sexuais presenciais e a menor frequência de relações na geração Z não indicam falta de interesse pelo sexo, mas sim uma preferência por experiências virtuais. Para a Dra. Carmita, esse comportamento pode não ser negativo em si, mas pode acarretar desafios caso os jovens enfrentem dificuldades em transpor a barreira das telas.
Após anos dedicados a uma atividade masturbatória predominantemente virtual, os jovens podem se deparar com obstáculos ao iniciar relações físicas, devido à necessidade de lidar com aspectos como tempo, interesses e repertório sexual do parceiro, elementos que não eram tão relevantes no ambiente virtual.
O fácil acesso a uma ampla gama de conteúdo pornográfico também pode influenciar a preferência por interações sexuais virtuais, tornando as experiências presenciais menos atrativas para uma geração acostumada a moldar sua sexualidade com base em representações idealizadas e performáticas.
A crescente presença da inteligência artificial nesse cenário tende a acentuar essa dinâmica, conforme ressalta a psiquiatra. A relutância em se expor e a busca por interações virtuais podem refletir um receio de decepção em uma geração que foi criada em um ambiente de proteção excessiva.
Para a Dra. Carmita, é fundamental reconhecer que o mundo virtual é uma extensão do mundo real e que as práticas online podem se integrar às vivências offline. No entanto, ela alerta que o ambiente digital não deve servir como um refúgio para evitar as interações interpessoais face a face, essenciais para o desenvolvimento emocional e a construção de conexões significativas.
Fonte: @ Estadão
Comentários sobre este artigo