Boletim de arboviroses com sintomas compartilhados de dengue, transmitida localmente, preocupa autoridades estaduais.
A febre Oropouche, transmitida por mosquitos, está se disseminando de forma acelerada pelo Brasil. Segundo o mais recente relatório de arboviroses do Ministério da Saúde, foram registrados 8.421 casos da febre Oropouche em 2025. Esse dado reflete um crescimento significativo de 812% em comparação com o ano anterior.
O aumento dos casos da febre Oropouche evidencia a urgência de medidas preventivas para conter a propagação do vírus Oropouche. É fundamental que a população esteja ciente dos sintomas dessa doença e busque atendimento médico ao menor sinal de mal. A disseminação do Oropouche reforça a importância da conscientização sobre a prevenção de doenças transmitidas por mosquitos.
Febre Oropouche: Descentralização dos Testes e Transmissão Local do Vírus
A descentralização dos testes de PCR para laboratórios estaduais tem sido um fator crucial para o aumento na detecção dos casos de Febre Oropouche. Desde a década de 1960, a doença era, originalmente, endêmica na região amazônica, mas agora a transmissão local do vírus já é realidade em diversos estados brasileiros, incluindo Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Piauí.
Os sintomas da Febre Oropouche são muito semelhantes aos da dengue, com febre, dores no corpo, dores musculares e articulares, dor de cabeça, náuseas e, ocasionalmente, vômitos. No entanto, manchas na pele, comuns na dengue, são raras na Febre Oropouche. Complicações neurológicas, como meningite e encefalite, embora incomuns, podem ocorrer também.
A diferenciação entre a Febre Oropouche e outras arboviroses é um desafio, pois os sintomas são compartilhados por várias arboviroses. A Febre Oropouche e a dengue têm dores articulares difusas, sem sinais inflamatórios marcantes, ao contrário da chikungunya e do Mayaro, que costumam causar dores articulares intensas com inchaço e vermelhidão.
A confirmação do diagnóstico só é possível por meio de exames laboratoriais. O diagnóstico inicial é realizado por PCR, que detecta o RNA do vírus até o quinto dia após o início dos sintomas. Após o sétimo dia, a técnica recomendada é a sorologia com pesquisa de anticorpos IgM e IgG.
Trata-se de um teste bastante específico, sem reatividade cruzada com outros arbovírus. No Brasil, o vírus Oropouche circula em ciclos silvestres e urbanos. No silvestre, mosquitos arborícolas infectam humanos acidentalmente ao picá-los em áreas de mata, com primatas não humanos e bichos-preguiça servindo como reservatórios naturais.
No ciclo urbano, os mosquitos adaptados transmitem o vírus de humano para humano. O principal vetor é o mosquito Culicoides paraensis, conhecido como maruim ou mosquito-pólvora. A disseminação do vírus está ligada a fatores como desmatamento e crescimento urbano desordenado.
Além disso, o aquecimento global e as mudanças climáticas têm criado condições favoráveis para a reprodução dos mosquitos em novas áreas. As medidas de prevenção são semelhantes às da dengue, como controle ambiental para evitar criadouros de mosquitos e uso de repelentes e roupas protetoras em áreas de mata.
Não há vacina disponível para a Febre Oropouche, e o tratamento é focado no alívio dos sintomas, com hidratação e medicação para dor e náuseas. Apesar da maioria dos casos terem evolução favorável, a doença pode apresentar recaídas após uma melhora inicial, e as complicações neurológicas, embora raras, podem ser graves, necessitando de cuidados intensivos.
O monitoramento da Febre Oropouche e o controle de sua disseminação, especialmente em áreas urbanas, são críticos para evitar epidemias em larga escala. Carolina dos Santos Lázari é médica infectologista e patologista clínica e membro da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML).
Fonte: @ Veja Abril
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