“Disculpe, muitas milhões de desafios, perdi controle. Quero discutir este grande tempo-depositado de eventos, auditório enchendo, minha impostor-síndrome no palco, microfone em mãos, apresentar minha energia subindo.”
Na semana passada, me deparei com um desafio profissional e tanto: tive que conduzir um evento super relevante de uma empresa renomada – mas completamente em inglês. ‘Ah, João, mas para você deve ser moleza’. Claro, já atuo nesse ramo há 15 anos, então compreendo se você, caro leitor, pensa assim – talvez até esteja parcialmente correto.
Enfrentar um evento complexo em outro idioma não deixa de ser um desafio empolgante. É como estar em um jogo em que você precisa pensar rápido, se adaptar às circunstâncias e manter o público engajado. Nesse contexto, a adrenalina do desafio só aumenta, e a sensação de superação no final é extremamente gratificante. Afinal, é nos desafios que encontramos oportunidades de crescimento e aprimoramento contínuo, não é mesmo?
Enfrentando o Desafio da Insegurança
Mas do lado oposto, as preocupações tomaram conta: ‘Não será fácil para mim, e não tenho certeza se consigo.’ Era essa a noção que pairava em minha mente. Nos dias que antecederam o evento, eu gerava mil desculpas, criando um emaranhado de justificativas para não comparecer. Desde ‘minha cachorrinha adoeceu’ até ‘acabei ficando sem gasolina no carro no meio do caminho’. Qualquer motivo que afastasse aquela sensação angustiante de incapacidade. A solução mais simples seria fugir. Assim, ninguém descobriria minhas supostas falhas. Um verdadeiro drama, eu sei.
Enfrentando o Medo Interno
Chegou o dia marcado. Apesar de toda a angústia prévia, uma parte de mim tinha certeza de que não iria se evadir. Lá estava eu, pontualmente, com o roteiro na ponta da língua, cumprimentando a todos com um sorriso. Pelo menos era isso que as pessoas viam. Por dentro, cada fibra tremia em agonia. Direcionei-me aos bastidores, repassando mentalmente as partes em inglês vezes sem fim. Quando surgiam dúvidas de pronúncia, recorria ao meu irmão, professor de inglês, para auxílio. Tudo parecia sob controle, ao menos até então.
O Desafio de Encher o Auditório
Minutos depois, o auditório começou a encher, e a responsabilidade de proporcionar uma noite agradável pesava em meus ombros. Uma leve ansiedade me invadiu, uma voz sussurrando em minha mente a sugestão de desistência. Será que minhas desculpas anteriores ainda seriam válidas naquele instante? O que aconteceria se simplesmente partisse?
Após considerar brevemente a fuga como opção, decidi ficar. Não havia mais retorno: era hora de subir ao palco e desempenhar meu papel. Com a música ao fundo e o microfone aberto, dei o primeiro passo. Foi então, ao subir o primeiro degrau e ser banhada pela luz, que lembrei: este era um lugar familiar. Já havia enfrentado situações semelhantes, até mais desafiadoras, e havia superado. Por que duvidei tanto de mim?
Vencendo a Síndrome da Impostora
Resultado: o evento foi um sucesso. Assim que compreendi que estava preparada e ciente do que fazer, libertei-me. Retornei para casa satisfeita com minha performance, refletindo sobre a quantidade de energia desperdiçada com preocupações infundadas. Quanto tempo foi perdido persuadindo-me de que falharia. Tudo por culpa da maldita síndrome da impostora, que teima em nos fazer sentir inadequados.
É por essa razão que decidi compartilhar minha experiência neste texto. Não desejo que gire em torno de mim, mas sim de todos nós. Aqueles que em algum momento sentiram-se incapazes, mas, por fim, descobriram que o verdadeiro monstro estava dentro de suas mentes. Não é simples desafiá-lo, mas nunca devemos desistir de nos surpreender com nossas próprias capacidades. Vai além do que nossa mente nos permite acreditar.
Fonte: @ CNN Brasil
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