Intelectual mulher em posição racial na Cátedra Pequena África da FGV.
Com aproximadamente 60% da população reconhecida como negra, o Brasil é um país que ainda não se vê no reflexo e está consideravelmente atrasado em debates sobre a questão racial. A artista visual e educadora negra Rosana Paulino compartilha essa visão, acumulando trabalhos reconhecidos dentro e fora do Brasil relacionados ao racismo, à posição da mulher negra na sociedade e às marcas deixadas pela escravidão.
Além disso, Rosana Paulino destaca a importância de ampliar o diálogo sobre esses temas não só no Brasil, mas em outros países. Sua arte transcende fronteiras, levando reflexões sobre a história e a cultura negra para além das fronteiras do país.
Entrevista com Rosana Paulino: Educação Visual e Emancipação no Brasil
Para a artista, a questão da educação visual é fundamental para a emancipação das pessoas. ‘Se você só vê uma pessoa ou um determinado grupo ocupando certas posições, só vê esse grupo sendo retratado de forma negativa, você não precisa falar, você não precisa escrever. Você não precisa ler sobre isso: a imagem já está te condicionando’, afirma.
Rosana Paulino, que recentemente fez sucesso com a exposição Amefricana no Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires (Malba), agora é uma das responsáveis pela Cátedra Pequena África, lançada pela Fundação Getulio Vargas (FGV) no Rio de Janeiro. Ela estará ministrando o curso livre Arquivo, Memória, Construção Visual e Educação.
Em uma conversa exclusiva com a Agência Brasil, Rosana Paulino discute sobre a importância da educação visual para o ‘empretecimento’ da academia e sobre sua obra, que aborda questões raciais e de posição social, além de temas contemporâneos como a posição da mulher e a relação entre comunidades tradicionais e mudanças climáticas.
Rosana Paulino e a Ressignificação de Imagens no Brasil
Agência Brasil: Qual é a proposta por trás do curso que você ministrará? Trata-se de uma reinterpretação de imagens relacionadas à escravidão?
Rosana Paulino: Os encontros que faremos têm como objetivo analisar algumas imagens e como elas contribuem para a construção de um espaço social para a população negra. Também vamos explorar como artistas contemporâneos brasileiros estão desafiando esse espaço simbólico que foi historicamente atribuído à população negra por meio da imagem. Para compreender esse processo, é essencial entender o contexto histórico que moldou esse espaço simbólico e como ocorreu o processo de embranquecimento e apagamento. No entanto, nosso foco estará na esfera da imagem, que é minha área de atuação. Portanto, não se trata apenas da escravidão, pois a população negra é muito mais do que apenas sua história escravocrata.
Agência Brasil: Você é tanto artista quanto educadora. Como a arte pode ser uma ferramenta de educação?
Rosana Paulino: Sem dúvida! Trabalhei como educadora por três décadas e valorizo muito essa profissão. A educação visual, em particular, é essencial para a emancipação dos indivíduos. O poder da imagem é subestimado no Brasil, o que me preocupa. A capacidade de condicionar uma população e definir espaços sociais por meio da imagem é extremamente poderosa. Muitas vezes, não é necessário dizer nada, apenas mostrar uma imagem pode influenciar profundamente a percepção das pessoas e moldar suas posições na sociedade.
Fonte: @ Agencia Brasil
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