Presidente institucional do Instituto Coalizão Saúde e doutor em Oftalmologia pela Unifesp, com foco no tratamento cirúrgico de casos de cegueira. Novo método de detecção de neurodegeneração promete recuperação funcional.
O Alzheimer é uma condição neurodegenerativa progressiva que afeta a memória, o pensamento e o comportamento das pessoas. É a forma mais comum de demência em idosos, causando uma série de sintomas que interferem na capacidade de realizar atividades do dia a dia.
Uma das características da doença de Alzheimer é a formação de placas de proteína no cérebro, que interferem na comunicação entre as células nervosas. Essas placas levam à morte das células cerebrais, resultando em uma deterioração gradual das funções cognitivas.
Procedimentos para lidar com a catarata ao longo dos milênios
Procedimentos para lidar com a catarata são conhecidos há alguns milênios – de escritos egípcios e chineses a trabalhos de Hipócrates (o ‘Pai da Medicina’) e Aristóteles. Buscar o tratamento cirúrgico pode evitar a perda da visão – segundo a OMS, catarata responde por quase 48% dos casos de cegueira no mundo. Mas uma pesquisa mostrou outro excelente incentivo para buscar tratamento.
O artigo, publicado no periódico científico JAMA Internal Medicine (da American Medical Association), sugere que extrair a catarata traz associado um risco 30% menor de que adultos com 65 anos de idade ou mais venham a desenvolver doença de Alzheimer ou outros tipos de demência.
O trabalho avaliou 3.038 adultos daquela faixa etária, que sofriam com catarata e estavam inscritos no estudo Adult Changes in Thought, que está em curso há três décadas. O estudo coloca algumas hipóteses que podem levar à explicação da associação entre extrair a catarata e o risco menor de demência.
Entre elas, por exemplo, está a de que deficiência visual pode levar a menos interações sociais, menos atividade física e dificuldades psicossociais – todos fatores associados ao declínio cognitivo. A perda de visão relacionada à idade também foi associada à atrofia do córtex visual – o que pode acelerar a neurodegeneração.
Por outro lado, observou-se recuperação funcional e estrutural (um aumento no volume de substância cinzenta) entre pessoas que se submeteram à cirurgia de catarata.
Relevância do tratamento oftalmológico na prevenção de problemas neurológicos
Saber que o tratamento para os olhos contribui para a melhoria da saúde do cérebro ganha uma importância ainda maior à luz de um dado ainda mais recente: estudo publicado na sexta-feira (15 de março) na revista especializada ‘Lancet Neurology’ mostrou que 43% da população mundial sofreu problemas de saúde neurológicos em 2021.
É preciso um breve momento para recuperar o fôlego diante da enormidade desse número: mais de 4 em cada dez pessoas no mundo todo sofreu de problemas neurológicos em 2021. Continua após a publicidade Lembremos que 2021 foi também ano de pandemia de covid-19, para agravar ainda mais o quadro.
Segundo estudos analisados no Laboratório de Neuroimagem da Unicamp e apresentados em congresso do Instituto de Pesquisa sobre Neurociências e Neurotecnologia (da mesma universidade), mesmo as formas mais leves de infecção pela covid-19 podem alterar estrutura e funções cerebrais, o que abre caminho para quadros de ansiedade e depressão (mas não só).
No estudo da Lancet, os destaques são patologias que afetam o sistema nervoso – entre elas demências e AVC (Acidente Vascular Cerebral). No Brasil, segundo artigo de abril de 2023 publicado no periódico especializado ‘The Journals of Gerontology’, cerca de 77% dos idosos não foram diagnosticados com demência, ‘indicando um importante problema de saúde pública’.
Importante, sem dúvida alguma – principalmente se considerarmos que a população brasileira vem envelhecendo, como mostrou o IBGE no Censo 2022: há cerca de 55 pessoas com 65 anos ou mais de idade para cada 100 crianças de 0 a 14 anos (em 2010, essa proporção era de cerca de 30 para cada 100).
Avanços no diagnóstico precoce da doença de Alzheimer
A inteligência artificial vem crescendo como ferramenta para ajudar a detectar a doença de Alzheimer. Cientistas da UCSF (Universidade da Califórnia em San Francisco), empregando aprendizado de máquina, conseguiram desenvolver um método que pode detectar a doença até sete anos antes do aparecimento de sintomas. Será um avanço de imenso valor quando se tornar mais difundido.
Mas toda ajuda sempre será bem-vinda na prevenção da demência – e que um procedimento (cirurgia de catarata) há milênios conhecido possa contribuir é extremamente positivo.
Fonte: @ Veja Abril
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